quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O garoto das dezenove cruzes

Era um dia quente e o jovem garoto carregava, além da incerteza de ser o que era, a dúvida; "devo ou não devo ir beber uma cerveja?"

Lutando com suas incertezas, o garoto resolveu caminhar, e andando chegou ao bar. Alí encontrou um velho conhecido e, sentados, se embebedaram. Não passando muitas horas, o bar se encheu de velhos amigos, quando o garoto deu seu repente de liberdade. Resolveu ir em busca de se libertar. "Me libertar... me libertar de mim?" pensou consigo o garoto. Rasgaram as sarjetas e as ruelas, rasgaram também o que os oprimia.

Diversão, liberdade, álcool, drogas e euforia. Já tudo misturado na garganta do pequeno vencedor, sua criatividade vem à tona, pinta, rabisca e cria. Em nenhum instante daquela madrugada o garoto parou e pensou em sua vida; já sabia que era o ser que o oprimia.

Sempre procurando se encontrar, o garoto se perdia tentando se achar. Só gostava e só procurava a triste amargura de ser o que valia, e valia muito, mas ele era o único que não via.

Mágoa, rancor e dor de ser o que era. Procurando solução, deixou ser marcado. Sua primeira marca, uma cruz. "Proteção e redenção eu vou ter", pensou o garoto com sua cruz.

Perdido novamente em sua mente, desesperado por não ter a sua sonhada solução, resolveu se deixar marcar novamente. Dezenove foram as suas marcas, suas cruzes para conseguir a liberdade de viver preso em sua alma.

Envolvido por seu obscuro prazer em fazer o mal para sí, causou e desmontou a cidade em que vivia.

"Sou estranho sou bizarro, encarnação do mal!" o garoto dizia.

E assim, o garoto com sua devastação e carregando suas dezenove cruzes, ficou conhecido como Bizarro. Ninguém o entendia, nem procuravam entender, ele era assim por que deveria ser. E o que falavam do garoto: divertido e destrutivo, não tinha nada a perder.

Sua criatividade subestimada por ele mesmo era seu dom maior. Podia dar vida a formas inanimadas.

Loucura, diversão, depressão... seu dia a dia eram assim.

"Como não me protegi de mim? para que serviram essas cruzes que agora tenho que carregar?" o garoto pensava.

Suas mãos eram mágicas e ele não via. Sua alma, torta e destinada a sofrer no prazer do mal, era abençoada pelo dom da criação. Ele se destruía e criava vida.

O garoto das dezenove cruzes nasceu com espirito sombrio e com alma de luz, iluminada pelo dom da criação. A Divindade da ordem no caos lhe presenteou. Contraditório se fez em criatura, seria único portanto. E sua busca para se entender teria um fim quando contemplasse o ser que era, e se entregasse ao seu dom da criação.

Ele anda na escuridão em que muitos andam, mas pode ver a direção com sua alma iluminada.

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