"Vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia, e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor, como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua." (Carlos Drummond de Andrade)
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
O garoto das dezenove cruzes
Era um dia quente e o jovem garoto carregava, além da incerteza de ser o que era, a dúvida; "devo ou não devo ir beber uma cerveja?"
Lutando com suas incertezas, o garoto resolveu caminhar, e andando chegou ao bar. Alí encontrou um velho conhecido e, sentados, se embebedaram. Não passando muitas horas, o bar se encheu de velhos amigos, quando o garoto deu seu repente de liberdade. Resolveu ir em busca de se libertar. "Me libertar... me libertar de mim?" pensou consigo o garoto. Rasgaram as sarjetas e as ruelas, rasgaram também o que os oprimia.
Diversão, liberdade, álcool, drogas e euforia. Já tudo misturado na garganta do pequeno vencedor, sua criatividade vem à tona, pinta, rabisca e cria. Em nenhum instante daquela madrugada o garoto parou e pensou em sua vida; já sabia que era o ser que o oprimia.
Sempre procurando se encontrar, o garoto se perdia tentando se achar. Só gostava e só procurava a triste amargura de ser o que valia, e valia muito, mas ele era o único que não via.
Mágoa, rancor e dor de ser o que era. Procurando solução, deixou ser marcado. Sua primeira marca, uma cruz. "Proteção e redenção eu vou ter", pensou o garoto com sua cruz.
Perdido novamente em sua mente, desesperado por não ter a sua sonhada solução, resolveu se deixar marcar novamente. Dezenove foram as suas marcas, suas cruzes para conseguir a liberdade de viver preso em sua alma.
Envolvido por seu obscuro prazer em fazer o mal para sí, causou e desmontou a cidade em que vivia.
"Sou estranho sou bizarro, encarnação do mal!" o garoto dizia.
E assim, o garoto com sua devastação e carregando suas dezenove cruzes, ficou conhecido como Bizarro. Ninguém o entendia, nem procuravam entender, ele era assim por que deveria ser. E o que falavam do garoto: divertido e destrutivo, não tinha nada a perder.
Sua criatividade subestimada por ele mesmo era seu dom maior. Podia dar vida a formas inanimadas.
Loucura, diversão, depressão... seu dia a dia eram assim.
"Como não me protegi de mim? para que serviram essas cruzes que agora tenho que carregar?" o garoto pensava.
Suas mãos eram mágicas e ele não via. Sua alma, torta e destinada a sofrer no prazer do mal, era abençoada pelo dom da criação. Ele se destruía e criava vida.
O garoto das dezenove cruzes nasceu com espirito sombrio e com alma de luz, iluminada pelo dom da criação. A Divindade da ordem no caos lhe presenteou. Contraditório se fez em criatura, seria único portanto. E sua busca para se entender teria um fim quando contemplasse o ser que era, e se entregasse ao seu dom da criação.
Ele anda na escuridão em que muitos andam, mas pode ver a direção com sua alma iluminada.